Não é “meu” trabalho!

Enquanto fotógrafo tenho experimentado um dilema que é o seguinte:
As pessoas elogiam muito, admiram muito meu trabalho, mas elas o veem como meu. Cria-se uma barreira entre o espectador e a imagem. Talvez meu trabalho cause um impacto visual muito forte e isso acaba afastando as pessoas.

Na teoria da recepção, que tem suas raízes em trabalhos de cientistas como Hans Robert Jauss, a ideia é que o sentido de uma obra não é fixo ou unidimensional, mas criado no encontro entre o artista e o espectador. A minha fotografia só ganha vida plena na interpretação de quem vê. Tenho pensando muito em maneiras de estabelecer um diálogo entre o leitor da fotografia e a imagem em si, como estimular que isso aconteça, criando um espaço onde o espectador se sinta não apenas como um observador passivo, mas como um ser que concebe junto.

O problema das redes sociais é que não há tempo suficiente para que o leitor compreenda a narrativa (se isso for trazido como texto) e se o recurso for um vídeo, fica restrito a poucos segundos… Fato é que uma das possibilidades para fazer acontecer essa aproximação é promover que ao invés de apenas admirar a imagem, o público possa sentir-se convidado a interagir com ela de diversas formas.
A Estética Relacional é um conceito desenvolvido pelo curador e crítico de arte Nicolas Bourriaud nos anos 1990. Ele propôs que a arte contemporânea deveria ser vista como um campo para a criação de interações e relações sociais . Para Bourriaud, uma obra de arte não é apenas um objeto estático que deve ser contemplado, mas um meio para gerar trocas sociais e criar experiências compartilhadas. Na fotografia, isso pode ser traduzido em uma abordagem que coloca o espectador no centro da experiência artística, transformando sua participação em algo fundamental para a obra. E sim, no fazer do trabalho com a fotografia terapêutica é inexorável a presença de um outro, ou seja, o trabalho só acontece porque você vem comigo! Assim, as fotografias tornam-se um reflexo coletivo de várias identidades, histórias e visões de mundo, quebrando a barreira entre o fotógrafo e o espectador.

Deixo aqui meu convite para que você procure se apropriar do “meu” trabalho e ver possibilidades de integrar as sensações que ele te provoca na sua própria vida.
Me ajude a construir e desenvolver esse trabalho que, acredito, contribui muito para auxiliar as subjetividades a se verem como singulares, nesse mundo digital de comparações e competições para enaltecer a “melhor” estética.

Escreva nos comentários sua visão sobre isso, por amor!

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